Em ambos os casos, para mim, a expressão ‘politizar’ é interessante e importante.
No caso, quando politizar significa abrir polêmica e disputar um espaço no quadro social ou intelectual, essa palavra assume a justa e necessária (e difícil em nosso sertão norte-mineiro) luta das pessoas ou de seus grupos sociais por vias de participação nos foros de discussão e/ou de decisão da sociedade e do Estado. Politizar é, neste contexto, exercer o sagrado princípio democrático de livremente poder expressar ideias, equivocadas ou não, brandindo-as contra outras opiniões que estão postas, ou fundindo-as, formando um conjunto crítico de questionamentos, de projetos e de respostas. A polêmica daí surgida tem valor na medida em que desperta as atenções, até então dispersas e acomodadas, para assuntos de relevância para a vida de muitos. Não há que se ter medo de ‘politizar’ debates. O receio deve existir quando aparentemente todos concordam com algo que, no submundo dos “medos de falar” ou dos “silêncios impostos”, ainda permanece nas centelhas da dúvida ou da inconformidade. Aí sim, há riscos para a sociedade. ‘Politizar’ seria a consequência lógica e coerente da atitude cidadã em uma sociedade livre, multicultural e democrática. Tomar partido é atitude correta e corajosa de quem tem ideias e as quer apresentar à crítica e ao ‘todo-social’. É virtude ter posicionamento, defendê-lo, lutar por ele. É sabedoria respeitar as divergências, mesmo quando não se abre mão daquilo que se acredita.
Quando politização assume o sentido de ação libertadora da sociedade, ela se explica numa atitude pedagógica que leva pessoas e grupos a tomarem consciência do seu papel político, da importância da política e de como se constituem a sociedade, o Estado e os seus mecanismos de existência e sustentação. É mais do que fazer as pessoas assumirem partidos políticos, candidatos ou ações de campanha em época de eleições. É um processo lento, duradouro e constante. Realiza-se mais com exemplos de práticas honestas, do que com teorias ou esquemas supostamente científicos. Esta concepção de ‘politização’ deveria ser de responsabilidade de todos, especialmente dos políticos (mas aí já é querer demais!) e também da família, das igrejas, das escolas, do judiciário, das associações da sociedade civil, enfim, de todos os que querem uma sociedade mais justa e em conformidade com o estado de direito.
Os políticos ‘politizariam’ a sociedade se, em princípio, começassem a agir conforme suas atribuições legais, não se fazendo passar por vendedores de ilusões ou mágicos. Bastaria que vereadores fossem tão somente vereadores e que prefeitos não se tornassem pequenos ditadores (existem os bons políticos, deixe-se claro!). Também, se a lei fosse aplicada a todos por igual, principalmente não havendo privilégios a ricos e abusos com os pobres, a sociedade seria ‘politizada’ quanto aos seus direitos e deveres, não ficando submetida ao clima deseducador da impunidade que paira no ar.
Famílias, escolas, igrejas e associações fariam muito bem à ‘politização’ social se levassem os seus membros a se tornarem mais críticos, interpretativos dos sinais dos tempos, líderes em variadas situações, atuantes em favor da dignidade humana, justos nos negócios e na lida em sociedade.
Não tenha medo de ‘politizar’. A coragem está em ser livre para manifestar aquilo em que se acredita.
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